Plutarco viveu próximo ao ano 100 d.C. Era filósofo, historiador, ensaísta, matemático e professor. Viveu em Roma, mas também passou pelo Egito, Ásia e Grécia, sujeito vivido.
Ele, partindo do princípio que seria impossível aos homens viver uma vida sem inimigos, criou uma forma de tirar proveito desta situação.
Dizia ele:
Tendo em vista que os inimigos observam as nossas ações atentamente, é importante estarmos atentos a nós mesmos sempre. Eles estão sempre à espreita de nossos erros, desta forma somos obrigados a viver de modo virtuoso e irrepreensível, resistindo às facilidades e afastando-se da presunção.
Ser vigilante com nós mesmos nos previne de erros, nos faz viver uma vida de virtudes. O bom hábito diário nos força a sermos cada vez melhores.
Este mecanismo automático de defesa nos protege dos inimigos, ou seja, os inimigos nos ajudam a melhorar. Eles prestam um serviço que, muitas vezes, os amigos não executam.
Uma vez um inimigo disse a Plutarco que ele tinha mal hálito.
Ele foi para casa e reclamou com a esposa: Por que você nunca me falou desse problema?
Sua esposa, uma mulher simples e casta, respondeu: Pensei que todos os homens cheiravam da mesma maneira.
De fato, Plutarco estava certo ao buscar se melhorar a cada dia, mas certamente essa vida vigilante lhe causava muito estresse.
Dois mil anos depois, com o avanço das ciências sociais e da neurociência, já sabemos que para se obter performance de alto nível, é preciso ter uma coisa chamada segurança psicológica.
A segurança psicológica causa relaxamento, entrega, eleva os níveis de oxitocina no organismo (hormônio do amor) e só é possível quando os indivíduos confiam um nos outros.
Não existe segurança psicológica num ambiente em que as pessoas estão em constante vigilância. Este ambiente é resquício do nosso tempo primitivo, em que havia constante tensão de ter que se preparar para uma fuga a qualquer instante, porque um predador poderia aparecer e nos devorar. Ambiente em que se vive com alto nível de cortisol, o hormônio do stress.
Logo, confiança traz mais resultados que vigilância!
Papua Nova Guiné é a população no mundo tida como a menos urbanizada, quase que a totalidade da população vive em áreas rurais ou floresta. São organizados em comunidades tradicionais bem primitivas, é um local muito pouco explorado ainda, embora possua uma das maiores diversidades culturais do planeta. Não sei se Plutarco em suas viagens chegou a visitá-los. Acredito que não, pois se hoje pouca gente sabe onde fica Papua, imagina dois mil anos atrás?
Mas Papua é o local onde a população apresenta os maiores índices de oxitocina no organismo, ou seja, eles confiam uns nos outros.
E no Brasil?
Recentemente vi uma pesquisa sobre confiança, a pergunta feita mundialmente era: Pode-se confiar na maioria das pessoas?
Infelizmente o Brasil ocupa um dos lugares mais baixos do ranking, mostrando que não confiamos uns nos outros.
E se não confiamos será que é porque temos muitos inimigos? Se temos, estamos usando os ensinamentos de Plutarco para nos melhorarmos?