O consagrado grupo de humor, Monty Phyton, costumeiramente fazia graça com a vida dos contadores em seus esquetes na televisão britânica, nos anos 70. Em uma delas, um famoso teste vocacional[1], um contador - decidido a mudar de profissão - descobre que seus atributos (entediante, chato, limitado, sem imaginação, tímido, sem iniciativa, sem personalidade persuasiva, sem senso de humor) são perfeitamente adequados à carreira de contador e não, à de domador de leões, como ele queria (apesar de confundir o animal com um tamanduá).
Em um momento épico da cena, o consultor afirma que estes atributos, que seriam em outras profissões considerados um ponto negativo, na contabilidade - pelo contrário - são bastante positivos. Ou seja, contabilidade, em sua visão, é a única profissão onde a criatividade é defeito.
Deve ser daí a origem do termo “contabilidade criativa”. Isto porque usar esse termo é sinônimo de uma prática não ortodoxa no mundo contábil, ou seja, é um modo popular de dizer que algo foi feito fora das regras, e a regra, já sabemos, Arnaldo, é clara.
Mas será mesmo que os contadores não podem usar a criatividade?
Num mundo onde até a inteligência é artificial, por que os contadores, que são humanos, não podem ser criativos?
Criatividade vem do latim CREARE que significa erguer, produzir; também, é CRESCERE, aumentar, crescer, cuja origem é a mesma da palavra CRIANÇA, talvez, porque a criança pergunte, questione, esteja construindo o seu mundo.
Ou seja, a criatividade faz parte da natureza humana, é o uso dela que nos fez evoluir e encontrar soluções para os desafios. No entanto, diante de uma profissão regrada por leis, regulamentos, pronunciamentos, normativas das mais diversas, muitas vezes, não dá tempo de pensar a respeito. É mais fácil e rápido aplicar o que está escrito. Outro dia, dá próxima vez, quando der, fazemos com mais calma. Já ouviu isso em algum momento na sua organização, não?
É interessante como duas pessoas, ressalta-se, adultas, lembram-me sobre a necessidade de se tentar manter a criança dentro de si, apesar dos anos e da idade, em busca da criatividade.O primeiro deles foi o educador Paulo Freire quando dizia: “Meu desafio é ver se terei a capacidade de continuar preservando em mim, a despeito da idade, o menino que fui, e ver se sou capaz, de criar, na minha velhice, o menino que eu não pude ser”, e o outro é Milton Nascimento, na canção Bola de meia, bola de gude quando diz: “Há um menino, há um moleque, morando sempre no meu coração. Toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão”.
Mas, então, como preservar o pensamento criativo?
Eu encontrei uma fórmula para isso, C5, isso mesmo, C elevado a 5:
O primeiro C é cama. Veja, porém, que não é pra se ficar deitado nela. É, simplesmente, para pensar que, sem um bom sono não dá pra ser criativo, precisamos ter uma boa qualidade de sono para repor energias e regular a serotonina, que é uma parte da química que produz a felicidade em nosso organismo. Caso você não consiga ter uma boa noite de sono, leia a minha coluna na revista de setembro/outubro de 2017.
O segundo C é chuveiro. Não há nada como um bom banho para relaxar e até cantar, pensar na vida, enquanto a água corre.
Depois, é coletivo. Sim, usar transporte público pode ser um ótimo impulsionador de criatividade. Isto porque quando dirigimos, nos habituamos com o caminho e não reparamos na paisagem. No coletivo, enquanto passageiros, observamos mais as pessoas, a paisagem, percebemos coisas e conexões que não vemos quando focados na direção.
Agora, se não quiser encarar o coletivo, use o quarto C que é a caminhada. Ela tem o mesmo efeito e, ainda, um adicional, pois oxigena o cérebro e ajuda a pensar melhor. Inclusive, se quiser acelerar, pode trocar por corrida que o efeito é o mesmo para a criatividade.
E, por último, anote todo insight que tiver no caderno, pois ideia não registrada se perde. Caso você seja mais moderninho e, eventualmente, não carregue um caderno por aí, certamente terá um substituto, que é também da família dos C, o celular. Portanto, anote!
A criatividade pode ser aplicada na melhoria dos processos de ciclo contábil, na confecção das demonstrações e das notas explicativas.
O troféu transparência chega a sua 22ª edição para mostrar que dá, sim, para usar a criatividade e oferecer ao leitor, das demonstrações contábeis, clareza. Essa é a verdadeira contabilidade criativa.
Parabéns às empresas vencedoras! And the Oscar goes to… (sempre quis dizer isso).
[1] Veja o esquete neste link: https://youtu.be/psehgv5llZY
Se você tem um causo inusitado, engraçado ou curioso envolvendo o mundo corporativo para contar, envie para esta coluna pelo e-mail comunicacao@anefac.com.br, que nosso lorde está pronto para escrachar. Mas pode ficar tranquilo, como todo lorde que se preze, Lord Excrachá é discreto. (Importante: As identidades dos colaboradores desta coluna não serão divulgadas.) Lord Excrachá é criação de Emerson W. Dias, diretor de Liderança e Gestão de Pessoas da ANEFAC e fundador do portal e da série de livros O Inédito Viável.