Uma das grandes perguntas que temos na vida é essa. Ser um perdulário e gastar desenfreadamente vivendo só o agora ou ser um avarento e economizar o tempo todo e lá na frente, quem sabe, aproveitar mais? Ou tentar escolher um caminho intermediário?
Já diziam que a melhor coisa do mundo é morrer devendo, porque significa que você gastou todo o seu e ainda consumiu o de alguém. Se poupar demais e não gastar, quando morrer não terá usufruído tudo que poderia. Fica para quem tudo o que construiu? O que você quer para sua vida? Ser um poupador ou gastador?
Isso é mais ou menos como crer em Deus. Se você crê na vida pós-morte, vai tentar adequar sua vida aqui para que lá na frente, quando for encontrar com Deus, face-to-face, seja recompensado por esse esforço. Se der certo, oba! Mas... e se não der certo?
Se Ele não existir? Significa que você não viveu tudo que queria viver aqui e lá na frente não terá outra chance, ou melhor, não terá um “lá na frente”. Ou então você decide que Deus não existe e faz o que bem quer agora, vive o que tiver que viver. Quando chegar lá na frente e por acaso se confirmar, Ele não existe! Oba! Que bom, viveu do jeito que queria. Mas... e se ao chegar lá na frente você se depara com a condição de que Ele existe? E agora? Não tem como “re-viver”, voltar e viver tudo de forma diferente. Então, você dançou, sem chances de consertar.
Nem vou entrar em questões de reencarnação, porque aí o papo vai longe, não vou conseguir acabar esse livro nesta vida... opa! Deixei escapar que posso ter a chance de continuar na próxima... será? Grande questão da filosofia: Deus existe ou não? E isso muda toda a condição de vida do ser humano. Poupar ou gastar? É mais ou menos o mesmo dilema, angustiante e complicado de lidar.
A psicologia econômica chama esse dilema de escolha intertemporal, pois são duas escolhas que não acontecem ao mesmo tempo, são escolhas em tempos distintos.
O que é bom? O que é ruim? A resposta imediata da maioria das pessoas: gastar é bom, poupar é ruim.
Isso é óbvio, eu só posso garantir o agora, o futuro a Deus pertence. Será? Então, se gastar é bom e poupar é ruim, deixo de poupar, oras. Mas quando colocamos o fator tempo, aí as respostas podem mudar. Hoje poupar é ruim, gastar é bom. Mas, no futuro, ter poupado pode se tornar algo ótimo.
Podemos ver no quadro, do meu livro Dinheiro Caro Filosofia Barata, na página 91 um momento em que as setas se cruzam; há também um momento em que naturalmente a sua renda vai diminuir: saída do mercado de trabalho, cansaço, decisão de curtir mais o tempo sem se preocupar com dinheiro e isso só será possível se o colchão feito até então lhe der garantia de que sua decisão será sustentável, ou seja, poderá remunerá-lo pelo resto da sua vida. É neste ponto que a sensação de ter poupado começa a fazer sentido.
Porém, quando isso acontecerá? Cada um terá de responder por si próprio. O que valerá a pena ou o que terá valido a pena: ter poupado ou ter gastado? Se eu apenas gastar e tiver uma vida longa, o futuro pode ser tenebroso, porque não terei formado esse colchão. Então terei que trabalhar até o fim dos dias para me sustentar, mesmo que não tenha mais saúde.
Aliás, como não posso prever o futuro, pode ser que eu faça a minha parte, crie meu colchão, minha reserva, mas minha saúde se debilite a ponto de, lá na frente, eu depender de outros até para sacar o meu suado dinheirinho. E aí precisarei contar muito com a sorte para que esse dinheirinho seja de fato usado por mim, pois experiências mostram que tem muito velhinho tomando golpe na praça, por não ter condições de fazer isso por conta própria. E o pior e mais triste: muitas vezes o “golpista” está dentro de sua própria casa.
Prefiro sempre fazer a minha parte e depois torcer para que eu possa rir, porque ao menos tenho a sensação de que o que eu poderia ter feito, foi feito. Meu caminho, então, é o do meio: um pouco para gastar hoje, um pouco para guardar para o futuro.
“E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar, não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar. Sem pedir licença muda nossa vida, depois convida a rir ou chorar.” Toquinho (Aquarela)
Este texto faz parte do 3o O inédito Viável, tema Finanças Pessoais, livro: Dinheiro Caro, filosofia barata com prefácio de Gustavo Cerbasi e 4a capa de Vera Rita de Melo Ferreira, expert em Pscologica Economica.